Por que metamorphoses?

Uma jornada pelas experiências transformadoras que moldam a existência humana. Explorando as interseções entre Arte, Gênero e Psicanálise, mergulhamos nas capacidades criativas e nos modos de ser em constante evolução que nos definem.

5/8/20242 min read

A etimologia da palavra metamorphosis, advém do latim significando transformação. Ao realizar uma rápida busca pelas plataformas digitais da temática, deparamo-nos com a conceituação biológica na qual esta refere-se:

“[...]grandes transformações que ocorrem no corpo de determinados animais durante seu desenvolvimento. A metamorfose envolve mudanças irreversíveis na estrutura, na fisiologia e até mesmo nos comportamentos dos indivíduos. [...] pode ser observada em moluscos, equinodermos, peixes, anfíbios e insetos [...].¹

Por ser um conceito que reporta-se a um grupo específico de animais não-humanos, como borboletas, anfíbios, moluscos…, tendemos a nos afastar e não refletir sobre essa condição transformativa. Especialmente se pensarmos em um mundo construído a partir de relações que versam sobre a filosofia dualista, de modo particular, a corrente platônica e cartesiana, as quais versam sobre a dicotomia entre o corpo (materialismo) e a alma (razão), sendo esta última alvo de supervalorização, visto que, é a condição humanizadora². De acordo com essa filosofia, a razão coloca-nos hierarquicamente acima de seres NÃO-humanos, pois estes faltam-lhe a razão\alma. Ainda que vários pensadores critiquem e criticaram esta concepção, com destaque para a filósofa-psiquiatra Nise da Silveira, esta concepção filosófica ainda permeia a atualidade, evidenciado pelas relações construídas entre humanos e não humanos.³

Então, até que ponto somos diferentes dos animais metamorfos? Até que ponto essa concepção biológica pode nos fazer refletir sobre nós mesmos?


Se a metamorfose diz sobre transformação, nós enquanto seres humanos nos transformamos em várias vivências, modificando nosso modo de ser e existir a partir de experiências traçadas durante a vida.

De acordo com Nise da Silveira: lam 1 “alguém que viu um naufrágio, um incêndio, a prisão, a tortura, não pode mais ser o mesmo indivíduo, sofre transformações” (SILVEIRA, 2009, p. 92).

Nem precisamos nos referir a experiências intensas como as trazidas pela autora: infância-adolescência, término de namoro, conflitos familiares, entre outros… podem culminar em transformações do nosso psiquismo, do nosso modo de existir.³

Assim, como as borboletas e anfíbios, o ser humano apresenta diferentes modos de existir, tornando-o único em sua trajetória. Dessa forma, o projeto methamorphosis visa evidenciar e refletir sobre as metamorfoses do ser, sua capacidade criativa e os diferentes modos de se existir, fomentando discussões a partir do diálogo entre Arte, Gênero e Psicanálise.


¹https://escolakids.uol.com.br/ciencias/metamorfose-nos-animais.htm#:~:text=A%20metamorfose%20pode%20ser%20observada,que%20esse%20desenvolvimento%20%C3%A9%20indireto.


² Trindade, André Sousa; De Miranda, Wandeilson Silva. Etologia e corpo: considerações sobre a metamorfose do humano. Occursus-Revista de Filosofia, v. 6, n. 2-Jul./Dez., p. 28-51, 2021.

³ Kulkamp, Camila. As metamorfoses do ser: apontamentos introdutórios sobre o pensamento filosófico de Nise da Silveira. PERI, v. 13, n. 3, p. 118-142, 2021.